domingo, 3 de junho de 2018

Liberdade



Liberdade


Ai que prazer 
Não cumprir um dever, 
Ter um livro para ler 
E não fazer! 
Ler é maçada, 
Estudar é nada. 
Sol doira 
Sem literatura 
O rio corre, bem ou mal, 
Sem edição original. 
E a brisa, essa, 
De tão naturalmente matinal, 
Como o tempo não tem pressa... 

Livros são papéis pintados com tinta. 
Estudar é uma coisa em que está indistinta 
A distinção entre nada e coisa nenhuma. 

Quanto é melhor, quanto há bruma, 
Esperar por D. Sebastião, 
Quer venha ou não! 

Grande é a poesia, a bondade e as danças... 
Mas o melhor do mundo são as crianças, 

Flores, música, o luar, e o sol, que peca 
Só quando, em vez de criar, seca. 

Mais que isto 
É Jesus Cristo, 
Que não sabia nada de finanças 
Nem consta que tivesse biblioteca... 

Fernando Pessoa, Cancioneiro

C R I A N Ç A S !!!...




 C R I A N Ç A S !!!...


CRIANÇA !!!...
Um sorriso,
Olhar meigo... olhar feliz...
Passarinho esvoaçando;
Envolto em graça...
É amor... é alegria, que ali passa,
É ´ma criança... é o futuro...
Do meu País !!!!...
CRIANÇA !!!...
Criança linda,
Envolta em sonhos,
Para alcançar p´la vida fora...
Botão em flor que desabrocha;
E se adora !!!...
CRIANÇA !!!...
É no presente força viva,
Que desperta... faz renascer !!!...
Pedaço de vida...viva...
Que veio ao mundo;
Para ser feliz... para amar...
E p´ra viver !!!...

António Joaquim Alves Cláudio

A criança que fui chora na estrada




A criança que fui chora na estrada


I

A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.

Se ao menos atingir neste lugar 
Um alto monte, de onde possa enfim 
O que esqueci, olhando-o, relembrar,

Na ausência, ao menos, saberei de mim, 
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar 
Em mim um pouco de quando era assim.

II

Dia a dia mudamos para quem
Amanhã não veremos. Hora a hora
Nosso diverso e sucessivo alguém
Desce uma vasta escadaria agora.

E uma multidão que desce, sem
Que um saiba de outros. Vejo-os meus e fora.
Ah, que horrorosa semelhança têm!
São um múltiplo mesmo que se ignora.

Olho-os. Nenhum sou eu, a todos sendo. 
E a multidão engrossa, alheia a ver-me, 
Sem que eu perceba de onde vai crescendo.

Sinto-os a todos dentro em mim mover-me, 
E, inúmero, prolixo, vou descendo 
Até passar por todos e perder-me.

III

Meu Deus! Meu Deus! Quem sou, que desconheço
O que sinto que sou? Quem quero ser
Mora, distante, onde meu ser esqueço,
Parte, remoto, para me não ter.

 Fernando Pessoa, Poesias Inéditas

O POETA UMA CRIANÇA




O POETA UMA CRIANÇA 


Poetas somos todos nós 
De todos os netos aos Avós 
Poetas no simples escrever
Inspirados no doce amanhecer

Poetas são almas apaixonadas
Que vivem num Mundo a parte
Acordam pela madrugada inspiradas
Respiram pelos poros autêntica arte

Poetas são a vida e a morte
Autênticos corações apaixonados
Que vivem a vida ao sabor da sorte
Mesmo que terminem abandonados

Poetas são autenticas crianças 
Infantis sem maldade no coração
Sonham em poesia suas lembranças 
Vivendo a vida como uma bela canção 

Poetas são as crianças do Universo 
São estrelas puras e cintilantes
Que compõem o Mundo em verso
Com as quadras mais fascinantes 

Paulo Gomes